segunda-feira, 15 de julho de 2013

Texto: A valorização começa em frente ao espelho

por Elaine Reis - professora de dança de salão e proprietária da Academia Pé de Valsa

Na minha empresa, gosto e faço questão de fazer uma parte do serviço administrativo: tirar notas fiscais, contabilizar o estoque do bar, fazer o caixa de pagamento dos alunos, atender telefonemas, enfim, a rotina diária há anos. E o faço com muito orgulho!
Um dia desses, recebi uma ligação que me faz questionar sobre a prestação de nossos serviços. A mulher se identificou como secretária de uma grande universidade particular. Prefiro não citar o nome, mas sei da existência desta faculdade em várias capitais brasileiras. Diz que foi indicada por uma ex-aluna que na hora reconheci quem era, apesar da mesma ter saído da academia há muitos anos. Por sinal, foi uma aluna muito querida da época.
Disse que a faculdade faz um trabalho com a terceira idade e soube que eu tenho um trabalho parecido e que necessitava de minha ajuda.
Um arrepio me passou pelo corpo ! (Acho que, no fundo, já sabia que não ia gostar nadinha...) Fiquei em silêncio, respirei fundo e ela continuou.
Disse: "Tenho um evento em novembro com mais ou menos 280 pessoas, na maioria mulheres e gostaria que seus dançarinos viessem animar a festa, se possível uns 10."
Eu, ainda em silêncio, e ela continuou relatando que não tinha verba para pagar o serviço e que tinha uma ótima contraproposta para me oferecer. Disse que eu poderia fazer uma divulgação, colocando banner, panfletos, propaganda da academia na faculdade.
A minha vontade era de falar tanta coisa, mas só respondi perguntando: "qual é a data da festa?"
Ela disse a data e, para meu alívio, o baile seria em uma quinta-feira. Expliquei que não poderia atendê-la, pois era dia normal de trabalho da escola de dança e os dançarinos estavam ocupados.
Pensei com meus botões: "Graças a Deus, desta já estou livre!"
Para a minha frustração, o diálogo continuou......
A secretária disse: "Que pena... Então você poderá me ajudar de outro jeito. Tenho uma palestra na semana que vem para este mesmo projeto e você poderia mandar, mais ou menos de dois a três casais para fazer um apresentação abrilhantando a solenidade, e traga alguns cartões e panfletos para fazer propaganda, pois, como disse, não temos verba para remuneração."
Mais uma vez respirei fundo e fiz questão de responder com muita calma, o que normalmente não é de meu feitio: "Cicrana, não quero parecer indelicada, mas a minha experiência já me mostrou que proposta de parceria como esta não traz nenhum resultado positivo para a academia. Além disto, teria que contar com a boa vontade de vários profissionais que levam muito a sério o seu trabalho. Agradeço a sua oferta, mas não é de nosso interesse."
A mulher ficou brava e eu senti a sua raiva do outro lado da linha ao desligar o telefone.
Muitos, muitos “profissionais” aceitam este tipo de permuta. Então não podemos reclamar, pois esta é uma realidade.
Gostaria de ressaltar que trabalhamos sem remuneração para eventos beneficentes que acreditamos na causa e nestas ocasiões não esperamos nada em troca.
Quando somos tratados sem respeito por muitas pessoas e entidades não consigo parar de pensar nas horas gastas para criar uma coreografia, dos ensaios maçantes dos dançarinos para ficar perfeito, nas contusões praticamente que diárias, nas fisoterapias intensivas, na compra de antiflamatórios e analgésicos, na pesquisa do figurino, na procura dos tecidos e aviamentos, nas despesas com transporte, alimentação, na necessidade de ter um bom calçado, perfume, lenço, um figurino que atenda o traje de cada evento, nas aulas de aprimoramento constante e na dignidade de viver de arte e dança.
Somos responsáveis!
Você já se olhou no espelho hoje?


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