terça-feira, 22 de março de 2011

Texto: Visão equivocada


por Elaine Reis (professora de dança de salão e proprietária da Academia Pé de Valsa)

Este texto foi muito difícil de escrever. Mudei três vezes o título e pelo menos umas seis vezes a sua estrutura.
Esta minha insatisfação – sobre a qual falarei neste texto - já me acompanha há muitos anos, mas às vezes tenho momentos de profunda inquietude.
Tudo explodiu quando frequentei um baile de um ritmo específico onde havia muitos profissionais de diversas escolas, além de vários bolsistas, amantes da dança e... muitos poucos alunos. A pista ficava lotada e, usando uma expressão antiga, a galera estava “arrebentando a boca do balão”- inclusive eu.
Ah! Já ia me esquecendo: também houve apresentações de diversos casais, propaganda de futuros bailes e work shop de várias academias.
Os organizadores sempre enfatizaram que esta “união” é em prol da dança. Percebo que este discurso já ficou generalizado em muitos eventos da dança de salão.
O que significa um evento em prol da dança? Em quem podemos confiar? Existe realmente no mundo do business concorrência leal? Há dignidade e lealdade entre estas empresas afins?
Como não posso falar pelos outros, vou dar a MINHA verdade sobre estas perguntas. Primeiro gostaria de dizer que, na década de noventa, algumas academias tentaram unir e montar a associação DANSAL em BH. Foram tantas divergências, mágoas pessoais e intolerância que a idéia foi por água a baixo. Desde esta época, como empresária, optei em ficar no meu canto, não por desconfiança, mas por preguiça de ficar batendo boca em vão.
Com o passar dos anos e a entrada de jovens dançarinos e empreendedores dentro da escola - com toda energia, vigor e pureza - retornamos ao interesse de a academia ser representada nas atividades citadas acima. Assim, incentivei as idéias dos recém chegados.
Estando presente em muitos acontecimentos da dança, vira e mexe acho que há alguma coisa equivocada no ar... Assim, acabo retornando aos questionamentos acima citados.
Num evento que se propõe ser em prol da dança os organizadores e profissionais têm que estabelecer qual é o público que quer atingir. Muitos podem estar pensando que o público é o mesmo, mas não é.
Exemplificando, sinto uma vontade doida de ir a bailes onde posso ser dançarina apenas (e não professora), onde eu posso satisfazer o meu ego, ter o meu prazer de dançar e pronto. Isto não é pecado e nós merecemos cada segundo deste deleite.
Em compensação, nos bailes em que o objetivo principal é ajudar o (a) aluno (a) do dia a dia a ter confiança e a ser um (a) dançarino (a), a postura tem que ser outra. Neste momento, a professora tem que amparar, a empresária tem que ter visão de que um aluno satisfeito é a alma do negócio e a dançarina tem que domar o seu ego.
O que quero dizer é que existe diferença de baile para baile.
Digam-me: como os bailes de “quebra tudo”, “oferece tudo”, “show de tudo” pode ser em prol da dança... se:
-Os poucos alunos existentes no lugar ficarão sentados à noite inteira, com uma expressão de espanto e/ou vergonha e, no mínimo, imaginando que nunca conseguirão fazer um quinto que seus olhos veem.
-Os profissionais, bolsistas, amantes da dança e bajuladores de plantão estão tão cegos que trombam em outros pares e não têm a humildade de pedir desculpas.
-Academias não param de fazer comercial de cursos, aulas, eventos, mas todos estão fazendo à mesma coisa e almejando o mesmo cliente. Este, por sinal, quase inexistente naquele ambiente.
-Profissionais brilhantes da nossa terra de Minas com grande bagagem de conhecimento sendo substituídos por professores de outras regiões.
-Os próprios artistas no final de cada show reclamam do nível de estresse porque na verdade é uma disputa feroz e uma competição maldosa.
Desculpem pela minha sinceridade, mas infelizmente não consigo acreditar que isto seja em favor da dança! Mais uma vez, esta é a minha verdade.
A união não pode ser falsa e com princípios equivocados, pois a falsidade não é a favor da dança. Aliás, a falsidade não é a favor de nada.
Sei da dificuldade de juntar forças. Acredito na frase “Aos inimigos se alie”, mas temos que pensar, pois bem sabemos que a concorrência é gigantesca, e todo dia sem exceção temos que plantar uma sementinha para tentar colher frutos no futuro. O problema é que estamos plantando a semente podre com as atitudes acima citadas. E semente podre não germina.
Não precisamos ter bola de cristal para saber que hoje a oferta é muito maior que a procura.
Já disse para alguns organizadores e empresários e me sinto repetitiva, mas vou falar de novo: temos que unir sim, mas com outro intuito. Uma de nossas diretrizes deve ser fazer uma super campanha publicitária informando a população sobre os benefícios da dança de salão! Só assim conseguiremos mais adeptos para a nossa arte e teremos recursos para alcançar projetos que verdadeiramente fazem a diferença para a preservação da nossa cultura popular.
Temos que promover bailes de dança, mas sermos sinceros e avisar que determinado evento terá a presença da galera mais experiente.
Esta guerra velada entre academias e profissionais, este ego aguçado do artista, a falta de preparo dos organizadores, são fatores que merecem uma boa reflexão e uma grande mudança de visão.
O Pé de valsa este ano completa 20 anos e almejo os 40.
E VOCÊ?


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