quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Texto: Zouk: dança ímpar


por Elaine Reis (professora de dança de salão e proprietária da Academia Pé de Valsa)

Atualmente, o zouk e o tango são os ritmos que mais tenho prazer de dançar em bailes.
Confesso que ainda não tenho muita oportunidade de bailar o tango, mas, em contrapartida, graças ao projeto de Demétrius e Kelly, a minha realidade mudou para melhor.
Como sou velha de guerra, já posso me dar ao luxo de dançar apenas as músicas que me empolgam. Algumas trilhas sonoras contagiam tanto o meu ser que necessito - como ar que respiro - achar um dançarino para saciar o meu desejo.
Ao ser escolhida para dançar, pareço uma adolescente esperando o príncipe encantado. Mas, como nos contos de fadas, este cavalheiro pode ser um sapo.
Sempre defendi que a dança de salão é para todos sem distinção de idade, sexo ou posição social.
Podem me xingar, olhar torto, ou por comodismo falar que sou corajosa, mas infelizmente a verdade dói: o zouk é uma exceção à regra, não é para todos.
Admito isto como professora, dançarina e empresária. Deste a época da lambada, não ficava satisfeita com o desempenho de alguns alunos.
Se alguns leitores acharem que é por falta de competência, eu não me importo, pois eu mesma já me questionei várias vezes sobre isto.
Hoje, mais madura, tenho plena convicção, depois de dançar com vários alunos de diversas academias, que este problema é geral. Quando a expressão corporal ou “ginga” é mais importante que o simples movimento, a dança se torna para poucos.
Como professora, evito dar aula deste ritmo tão maravilhoso e passo para instrutores mais novos, pois o desgaste corporal é gigantesco, e acabo adquirindo muitas dores na coluna.
Para piorar a minha análise, qualquer pessoa que tenha um “ite” (doenças como tendinite, bursite, artrite e similares) ou ainda problemas na coluna e/ou pescoço, estão terminantemente proibidas de executar esta dança. O que não acontece com o bolero ou forró, por exemplo.
Como dançarina, encontrar um dançarino de primeira linha é mágico, aí é só fechar os olhinhos e navegar pela onda corporal do par encontrado.
Por ouro lado, quando pegamos um amador pra dançar, a sensação é que estamos sendo trituradas por uma centrífuga.
Tenho conhecimento de uma escritora e dançarina da região sul do país que tem sérios problemas de saúde por causa de um chicote mal feito no zouk. Não recordo o nome dela no momento.
Aí que o bicho pega! Os amadores precisam treinar para se tornarem dançarinos de nível. Muitos desistem e os que persistem acabam machucando muita gente, mas faz parte do processo.
Ninguém fala sobre isto abertamente. Mas estou careca de ouvir conversas veladas das mulheres sobre a dificuldade de dançar com determinadas pessoas. O desconforto e a falta de prazer são enormes.
Sempre aprendi e ensinei como etiqueta da dança de salão a não rejeitar nenhum pedido para dançar e certamente continuo sendo coerente com o meu pensamento, mas confesso que às vezes tenho vontade de sair correndo igual o “papa léguas”.
Como empresária, vejo que muitas pessoas rejeitam a aprender esta dança tão sensual. Os mais velhos por motivo físico, os adultos por se sentirem velhos para entrar na tribo dos jovens, os jovens com ciúmes de seu par dançando com outra pessoa.
É lógico que já houve uma melhora em termos de adeptos a esta dança com o passar destes vinte anos. Mas, como o número de escolas é inversamente proporcional à quantidade de pessoas que querem fazer aula e frequentar bailes desta modalidade, o resultado financeiro para a maioria é muito pequeno.
Desistir jamais, às vezes é estratégico dar um tempo e depois, sem nenhuma pretensão, a vida coloca novamente as oportunidades na sua porta.
Já disse isto e vou repetir: dance com a alma, pois se você dançar só com o corpo ele tem a tendência de te trair, ainda mais no ZOUK!


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