terça-feira, 3 de novembro de 2009

Texto: Proliferação de Workshops

por Elaine Reis - Academia Pé de Valsa/BH/MG

Posso dizer, sem falsa modéstia, que o Pé de Valsa foi uma das primeiras academias a preocupar-se em trazer mais conhecimento através de professores vindos de outros estados do Brasil e abrir as portas para que TODAS as pessoas pudessem aumentar seu saber.
Lembro-me com se fosse hoje... Como a verba era pequena, Rogério Mendonça e Dani dormindo em minha casa. O sacrifício que fizemos para poder trazer o Jayme Arôxa com toda a companhia para o Baile no Círculo Militar.
Sei da importância de estarmos atualizados como profissionais. Vejo em outras localidades professores que podem ser especializados apenas em tango, outro em salsa e assim por diante. Mas aqui a nossa dificuldade é maior, pois o mercado pede – ou fomos acostumados – a saber todos os ritmos de dança de salão. É lógico que nem sempre somos excelentes em tudo.
Aqui entra outra questão: o aprendizado pode ter várias faces. Focar o conhecimento com a intenção de dar aulas, dar show ou simplesmente ser um(a) bom dançarino(a).
Sem sombra de dúvida é muito mais viável financeiramente fazermos aula em BH, mas, em contrapartida, em nossa terra não saímos da rotina. Não é simples toda semana deixar de dar aulas, sair da empresa, deixar filho, casa, marido, cachorro...
Venhamos e convenhamos: quase todo mês está acontece um curso de aperfeiçoamento e, mesmo sendo em nossa terrinha, o custo é alto.
Outro assunto para reflexão: os aperfeiçoamentos são para professores ou para nossos alunos?
Sei que o nosso país reagiu melhor à crise financeira, mas mesmo assim o babado é grande. Sabemos, é claro, que a maioria dos alunos não quer ser profissional de dança. Muito pelo contrário! Desejam entretenimento aliado a qualidade de vida e, muitas vezes, infelizmente, acham que vai ser rápido e fácil – o que gera uma decepção, pois a verdade é outra. Muitos desistem antes mesmos de completar seis meses. E nós fazemos das tripas coração para mudar esta realidade, não é mesmo?
Oferecer mais um curso, com mais um custo e às vezes em outra empresa é simplesmente incabível.
Profissionais que querem dedicar-se a apresentações e campeonatos, estes sim têm que investir tempo, dinheiro, suor, lágrimas, sorrisos e muitos workshops, não só pela performance, mas pela rede de relacionamento que isto trás.
Mudar a cultura de um lugar é uma tarefa de anos a fio. Não temos casas noturnas de ritmos específicos. Gostemos ou não, os ritmos comerciais são forró, bolero e samba.
Nós professores muitas vezes deixamos o conhecimento escorrer entre os dedos pela falta de oportunidade, pois normalmente, os nossos alunos não ficam tempo suficiente para que possamos colocar os valores avançados do nosso saber. É muito prazeroso quando temos alunos que nos desafiam e que nos consomem, pois assim temos que estar correndo a frente sempre.
Graças a Deus, nesta hora de esquecimento, basta pesquisar um pouquinho no youtube. O investimento é infinitamente menor e atende diretamente o nosso objetivo.
Não sei como, mas organizadores e produtores destes eventos poderiam se organizar para poder espaçar pelo menos em dois a dois ou três a três meses a distância de cada “congresso”.
Um problema sério que parece sem solução: para custear a vinda dos professores de fora, as turmas oferecidas são misturadas como pessoas de todos os níveis, o que não atende a necessidade do profissional de que vem de outra empresa. Nestas horas só aula individualizada.
Em particular, ocorreu uma cena triste em um desses eventos que participei. Na verdade, o relato é de um profissional da minha empresa que prefiro não citar o nome que me disse que se sentiu passado para trás.
Estávamos no final de uma aula coletiva onde o professor paulista era brilhante, mas o rendimento da aula foi péssimo pela heterogeneidade das pessoas participantes.
Assim, de cara, nós como profissionais já nos sentimos lesados. E o pior ainda estava por vim. Um dos diretores do evento, ao final da aula, pedia a retirada urgente dos participantes, pois logo depois começaria a aula para os monitores, bolsistas e professores da academia que promoveu o evento, ou seja, uma aula avançada realmente para pessoas que trabalham com a dança.
Meu professor, que participou da aula, me fez entender que somos os patrocinadores que custeiam as aulas da escola organizadora e mesmo assim só está empresa faz as aulas realmente avançadas.
Sei que é duro falar isto, mas é real. Cansei de escutar que tudo é em prol da dança. Na verdade tem que haver um amadurecimento, pois a dança evoluiu na técnica, na apresentação, na didática e até mesmo na concorrência, mas na “Ética” parece que terei que trabalhar mais vinte anos para ver as pessoas respeitarem um profissional e um empresário de dança.

Elaine Reis é instrutora especializada em dança de salão da "Academia Pé de Valsa"- BH - divulgando a dança como forma de cultura, arte e lazer.

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