terça-feira, 4 de agosto de 2009

Parceria x casamento

por Elaine Reis - Academia Pé de Valsa/BH/MG

Como sempre a verdade é relativa, para alguns a parceria de dança veio primeiro, para outros foi a união por amor. Mas independente dos fatores, muitos optaram por tentar conciliar esta façanha.
Poderia citar vários casais de dançarinos que juntaram a fome com a vontade de comer. Santa inocência! Com certeza, mais cedo ou mais tarde, tiveram que dissolver e abrir mão de um de seus sonhos.
A razão é tão diversa e tão profunda que vale a pena a gente avaliar.
Começando pela parte profissional, podemos citar a normalidade de haver diferenças na estrutura corporal do casal. Assim sempre um consegue ensaiar mais e sentir menos dor física que o outro. Outros fatores são aptidão, charme, desenvoltura e, é claro, que começa a exigir do parceiro muitas vezes o que o cônjuge não tem capacidade de dar.
Nós dançarinos geralmente não temos um ensaiador, não é mesmo? O ensaio fica sempre maçante para ambas as partes e ainda com aquela frase básica: “Quem errou foi você”.
Depois de um trabalho árduo vem a hora da recompensa. Até hoje eu não sei qual é!
Sempre no final de cada apresentação tem um falando para o outro que não fez isto ou aquilo, nunca estão satisfeitos com a apresentação e para piorar um pouquinho a situação, depois de tanto suor, dor e lágrimas, a pessoa que quer contratar o show acha sempre caríssimo o valor estabelecido. Estou mentindo?
Entrando na parte do relacionamento, aí tem pano pra manga, a intimidade é uma tortura. Ambos derramam palavras que agridem o fundo d’alma. Falta de paciência, tolerância, o não saber ouvir, o não saber escutar, gera uma mágoa e um desamor.
Sem contar com os problemas domésticos, filhos, cachorro, financeiros, são tantas divergências de opiniões que estabelecer um equilíbrio é tarefa para super-herói.
Isto tudo gera um grande desconforto, situações difíceis do trabalho são levados para dentro de casa e, vice e versa, assim o casal tende a desistir de alguma coisa.
É lógico que tudo nesta vida tem exceção e se conselho fosse bom não era dado de graça, já dizia meu avô, mas mesmo assim acho que o parceiro de dança não pode ser o parceiro da vida.
A arte, a interpretação, a fluidez dos movimentos, têm que estar aliado a um processo de harmonia externa e principalmente interna.
Nós, aqui em casa, optamos pelo casamento, assim hoje delegamos os shows para outras pessoas, de vez enquanto, damos o ar da graça. Por isso faremos dezessete anos de bodas.
E você já achou o seu “par”?

Elaine Reis é instrutora especializada em dança de salão da "Academia Pé de Valsa"- BH - divulgando a dança como forma de cultura, arte e lazer.

2 comentários:

Patricia disse...

Elaine, você é como uma jóia, linda e genuína. Concordo com vc 100%, não dá para cobrar a parte profissional do marido e cobrar do profissional agir como marido. E também não dá para separar completamente um do outro. O jeito é arranjar um parceiro para apresentações, se o marido valer a pena. E no meu caso, assim como no seu, vale!!!

Páola Barata disse...

Engraçado isto...sempre me intrigou esta incapacidade de união da parceria artística com a relação íntima! Eu nunca tive opção, pois meus relacionamentos sérios foram com homens normais (rsrsrs) e desta forma sempre tive parceiros e nunca pares na dança...mas confesso que tinha uma pontinha de ciúme de casais que dançavam juntos...mesmo sabendo e presenciando cenas bem desagradáveis! Acredito que o problema todo é a intimidade,que nos faz mais intolerantes em casa do que na rua, em qualquer circunstância. Mas ainda acho lamentável. A única vez que ensaiei com meu marido (judoca, diga-se de passagem...)foi para a Valsa de casamento, há 8 anos e quase que o casamento não sai por causa dela!
Quando nossos parceiros não são nossos pares e a intimidade é limitada, falamos com mais paciência, aceitamos melhor os erros e se o stress aumenta, casa um vai para um lado e se resolve longe do outro. Nossa, quanto mais escrevo, mais triste fico por constatar esta verdade...
Felizmente não tive que optar por um deles, como colocou Elaine, já que dança nunca esteve no menu do meu casamento...
A propósito tenho uma observação: uma vez fizemos aulas com um casal argentino, casados e parceiros e fiquei impressionada com a gentileza entre eles. Seria falso? Acho que não...no final acho que gentileza e cumplicidade são o grande diferencial...na dança ou na vida, né?