terça-feira, 18 de agosto de 2009

Segunda Intenção

por Elaine Reis - Academia Pé de Valsa/BH/MG

Num dia desses, dançando a primeira música com meu aluno particular antigo e frequentador semanal dos bailes de Belo Horizonte, me ocorreu um questionamento que vale uma reflexão.
Livremente estávamos a bailar quando de repente ele tentou fazer um passo e saiu um movimento completamente diferente e inusitado.
Imediatamente elogiei a sua criatividade, pois tinha conseguido me surpreender.
Ele respondeu:
Infelizmente, com a maioria das mulheres não conseguiria completar este movimento: elas não possuem noção de equilíbrio, não sabem o que é uma transferência de peso e muito menos senso de espera.
Fiquei em silêncio alguns instantes, conhecendo bem o perfil deste aluno. Respondi que a culpa era dele e de noventa e nove por cento dos homens solteiros ou desacompanhados.
Ele arregalou os olhos, completamente assustado, e indagou: Mas por que professora?
O seu constrangimento foi tão grande que respirei fundo e comecei a explicar com bastante calma.
Desde os tempos mais remotos, a dança de salão é vista como uma forma de lazer, entretenimento e uma ferramenta para a conquista.
É lógico que tudo passa por um processo de evolução. Técnicas de ensino, lugar especializado em apreender a dançar, forma de executar as apresentações para show (bailes e palco), coreografias e movimentos com várias influências, enfim muita coisa mudou, mas na verdade um fato não varia.
Independente da idade, homens jovens e maduros usam a dança como uma poderosa arma de sedução.
E aí a situação complica para os cavalheiros que querem realmente sentir o prazer de dançar a dois.
As mulheres, espertas como são, entram no “joguinho”. Elas não fazem aula, pois muitas conseguem ser arrastadas pelos salões de baile, sem a mínima preocupação se seus movimentos estão graciosos ou grosseiros, se sua postura está elegante ou se seu corpo está leve ou pesado. E ainda dizem a frase que odeio: Se ele me levar eu vou.
Mal sabem os homens que a maioria não vai a lugar nenhum, elas agradecem educadamente ao final de cada dança e vão sim para suas casas sozinhas.
Terminando a explicação para este aluno, disse que esta segunda intenção tem como conseqüência a falta de desenvolvimento e consciência da dança das mulheres. Tudo tem seu preço.
Assim sendo para que elas vão investir na perfeição de dançar se elas conseguem de graça, por causa de outros interesses?
Os verdadeiros pés de valsa sabem escolher as melhores dançarinas para sentir o enorme prazer que a dança propicia, e falando implicitamente, um bom dançarino solteiro não precisa ir a “caça”, não é mesmo?
O aluno olhou fixamente para mim e disse que nunca tinha pensado nisto, e você já pensou?

Elaine Reis é instrutora especializada em dança de salão da "Academia Pé de Valsa"- BH - divulgando a dança como forma de cultura, arte e lazer.

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